...Debaixo da cama, com a calcinha dela nas mãos, repetia: "meu amor volte para mim..."
Zimba cresceu ouvindo insultos dos amigos adolescentes que, impiedosamente faziam brincadeiras sobre o fato de sua mãe ser apontada nas ruas como “corneteira”, ou seja, uma mulher que dá corno, que trai o marido. E todas as vezes em que alguém pronunciava a expressão “filho da puta” todos olhavam para Zimba e gargalhavam, causando-lhe grande desconforto e constrangimento.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJd9qA3MXZ8F0MCqf_87hFozgbvRH5ocU8VxwGCVXb-SxF37up4zD9jw8bJWKPWj7RuXfFfV7KWPTz7FYqypyIb3qUEfV33DhWGpgM_v_hJqBiYYTvdmzT2F97j-xJn-29UQpffW54xVo/s320/primeira_namorada.jpg)
Não demorou muito, e Zimba passou a ser
apontado como corno. Alguns amigos tentaram lhe alertar sobre os comentários
recorrentes, mas Zimba, peculiarmente, se recusava a acreditar e os atribuía à inveja e ao
preconceito. A namorada se dizia inocente e chorava todas as vezes em que ele
tocava nesse assunto. Zimba, após inúmeros alertas, começou a se sentir incomodado
com o falatório e passou a seguir os passos da namorada. Já no segundo dia de
investigações, Zimba a viu se beijando com um outro rapaz num local escuro e
deserto. Ele ficou encolerizado, “cego”, e pensou em cometer uma violência, mas
aos poucos o discernimento voltou a nortear seus pensamentos e Zimba entendeu
que se ninguém viu, ele não precisaria sofrer com o trauma da separação. Era
impensável voltar a ser aquele menino que não “pegava” ninguém e era o alvo das
brincadeiras maldosas dos amigos. No terceiro dia de vigilância à namorada,
Zimba vacilou e se deixou ver pelo casal de traidores. Agora a namorada não
poderia negar. Mas a sua maior preocupação era que já não poderia mais se
enganar. Estaria arruinado...
Zimba não se
conformava em estar, novamente sozinho... Sentia todas as dores da perda da
primeira namorada, nos âmbitos físico, psíquico, moral e da autoestima. Parecia
que até o respirar doía, pois era acometido por uma dor no centro da alma que
se confundia com dor de estômago. Zimba esta desesperado e não tinha ânimo para
viver. Passou a faltar às aulas e ao trabalho, além de ficar intolerante com os
pais. Não tinha fome, não comia regularmente, chegando a perder peso e o apelido de
criança: “Gordinho”.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV4wEitcJTdFpFVFEKkheHifT8bIUCLbVFLGPL4tfAZp8L1CwuAlG1vbaQgtuc5jYP66H_ZDOeReB80SnrJLufoNAdmzHdtUwmlwSgItOm3jPG9Z9suQV12AtnxFdfDs2P1v-HCCLICjc/s200/sonho.gif)
No “terreiro”, Zimba expôs toda a sua
problemática, depositando naquele, que para ele era um super-humano, uma confiança que não sabia
sequer ser capaz. O profissional logo garantiu satisfação total ou devolução do
dinheiro. Acertaram o preço no valor de cem reais e o prazo de um mês para que a
namorada voltasse para o corno. Zimba saiu para comprar os apetrechos
solicitados pelo Pai-de-Santo, ou melhor, pelos orixás, tais: um copo de vidro
da marca Nadir-Figueredo, “virgem”, no qual ninguém tivesse bebido o sequer
colocado na boca; cem gramas de pimenta malagueta madura; uma calcinha da namorada;
e um machucador. O Nego-Véio de posse dos tais objetos, iniciou os rituais.
Colocou a calcinha da moça dentro do copo, pôs as pimentas sobre a roupa íntima
e passou a amassar as pimentas, sob os olhares hipnotizados de Zimba. Após
cerca de meia hora naquele mesmo movimento místico, o Pai-de-Santo entregou o
copo com seu conteúdo mágico e orientou ao cliente sobre a sua parte no ritual.
Zimba deveria colocar o copo debaixo de sua cama, mas nas três sextas-feiras
vindouras precisaria deitar-se debaixo da cama e, com o copo nas mãos,
pronunciar com os olhos fechados: “Meu amor volte pra mim, meu amor volte pra
mim, meu amor volte pra mim”. No momento do pagamento da consulta, Zimba se
lembrou que precisou gastar dez reais com os produtos solicitados pelo
milagreiro, e assim só lhe havia restado a quantia de noventa reais. Isso lhe
obrigou a pechinchar e obteve um desconto de dez por cento.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVmZJCjVqf-Sjk7MWTr-4nWNun1N9ZGCfyOAAPTsbvHLapq-X87NSJFnxZ4syyKzrmxSLFMcKsE3qVjmzqolDPb5HMWCugOomuYJ7BI8BcwIIdqcDyUhfNo6mnP17ag7YZJuV_vgSRu9o/s1600/debaixo+da+cama.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsxNiyRQy3nDA1gKRFGDGVm5nKhoGeFQyhJdvpllkPFlr9sV19AtXcbae9LBTKWYUbSnnQhlUO3AJTUtEYvD4TiqYB12M4S-EDJ34OMGbo-FhBQxPnTCwjkIbrWnUg4xgs0ldKjQP52os/s200/imagem_noticia_5__4_.jpg)
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