A
FAMÍLIA QUE MORDE UNIDA, MORRE UNIDA.
A
família recebeu com risadas a notícia de que a criança, de três anos de idade,
havia mordido um coleguinha na escola. Conversaram com a criança, mas não
tomaram nenhuma atitude punitiva exemplar. Novas queixas dos professores e de
pais das novas vítimas foram chegando, e a família parecia se divertir com os
fatos e demonstravam uma espécie de sentimento de orgulho, pelo fato de a
criança sempre ser a protagonista das ações violentas, e de nunca ser a vítima.
Comentavam: “Não tem como se defender, por isso morde”.
Nas diversas
conversas em família, ao longo da infância, a tal criança sempre ouvia relatos
dos parentes sobre como se defender com os dentes. A mãe deixou escapulir que
quando criança foi mordida muitas vezes e que, também, mordia seu irmão mais
velho para se defender dos abusos de poder, que os irmãos mais velhos sempre
cometem contra os mais novos, e que foram seus pais que a incentivaram a se defender
desse jeito. Uma irmã de sua mãe, que participava da conversa, apoiou e lembrou,
também, de suas próprias aventuras, que chegou a ser expulsa de uma escola por
ter mordido vários colegas, causando grande algazarra de todos nesse momento de
lembranças familiares. Uma tia disse que não tinha boas lembranças desse
comportamento mordedor. Mostrou um dos dedos faltando a falange distal, e
explicou que quando mordeu um desafeto, este revidou a agressão e lhe causou a
fatídica lesão. Mas ainda assim, gozavam esse momento argumentando que a tia
sempre conseguia um desconto na manicure. A prima comentou com orgulho que numa
briga na escola arrancou, com os próprios dentes, um pedaço da orelha de uma
colega. Demonstrando desgosto somente pelo fato de quase ter engasgado com o
brinco da vítima, que era de bijuteria. O avô comentou, também, que sentia
falta de seus dentes naturais, pois agora, com sua dentadura postiça, não
poderia dar o que merecia àquele vizinho que não lhe deixava descansar à tarde,
com todo aquele barulho da marcenaria que fabricava móveis de madeira.
Através
das janelas de vidro, do lado de fora, os repórteres eram vistos acotovelando-se
por uma posição mais privilegiada para fotografar aquelas pessoas, objetivando,
também, entrevistá-las para, finalmente, tentarem entender os fatos. A cidade
estava inquieta e não se falava em outra coisa. O único assunto era o massacre acontecido
naquela família tão bem conceituada, que tinha tantos membros divididos em representantes
de várias gerações.
Até
que o patriarca da família, o avô, de 90 anos de idade, saiu da delegacia onde
prestava esclarecimentos e tudo explicou aos jornalistas. Disse que havia
acontecido um grande conflito familiar e que os parentes haviam matado uns aos
outros, sendo que o idoso foi o único sobrevivente. Falou que a criança, que
desde os três anos de idade mordia as colegas na escola, agora com dez anos,
desferiu uma mordida no pescoço do priminho de um ano de idade, causando a
morte do pequeno, porque este comeu o iogurte de Nutella daquela criança; que a
partir daí ocorreu uma série de ataques vingativos, em sequência, entre os
familiares; que as mordidas miravam, igualmente, a jugular, os pescoços uns dos outros. O Avô
idoso respondeu que sobreviveu porque não conseguiu morder ninguém, e assim,
não recebeu mordidas vingativas. Era banguela.
Luis Borsan
Mordo a alma com a boca do coração... Para nao feri-la de dente bem na jugular e assim arrancar o que melhor de mim em vc há...😎
ResponderExcluirOk, primo. Então andemos de passo-leve para não acordar o dia. Já que somos, da noite, os companheiros mais fiéis que ela quereria...
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