ROUBO DISFARÇADO

    CELULAR ROUBADO


     O celular custava cerca de dois mil reais (R$2.000,00) mas estava sendo oferecido pelo valor de quatrocentos e cinquenta reais $450,00. Ao ouvir o senhor dizer que não queria comprar, o vendedor, em sua conhecida estratégia, abaixou ainda mais o preço e o aparelho sairia por míseros duzentos e cinquenta reais (R$250,00). O senhor demonstrou impaciência e virou-se de costas para o vendedor, e este, agora, se sentiu ofendido e ridicularizado em sua profissão. Lançou então uma proposta irrecusável! O preço de cem reais (R$100,00), o vendedor achava que a recusa seria impossível. Mas para seu choque, o senhor não quis. O vendedor, indignado, trocou o objeto por um punhado de drogas "crack", no valor de cinquenta reais (R$50,00).


     À noite, com os amigos e familiares, o senhor relatou que fora abordado por um homem desconhecido e de má aparência, o qual lhe oferecera um celular novo por cinco por cento (5%) do seu valor real; disse que a proposta era tentadora, mas que seus valores morais não lhe permitiriam um ato de tamanha desonra para si e para sua família. O senhor aproveitou a situação para discorrer sobre o que achava de pessoas que compravam coisas roubadas. Disse que isso estaria fomentando os crimes contra o patrimônio, aumentando a sensação de insegurança, acrescendo dados aos números estatísticos da violência. Nessa conversa, uma outra pessoa disse que conhecia um indivíduo que era honesto, mas ao ser assaltado e ter o seu celular roubado, encomendou um novo aparelho a um ladrão, e logo estava com um aparelho ainda melhor do que o seu anterior, e por uma quantia irrisória. O senhor rechaçou veementemente essa atitude e disse que quem compra roubo é ladrão, também! Declarou ainda que jamais comprou qualquer coisa de origem duvidosa. Relatou, também,  que esse tipo de atitude é psicologicamente perigoso, porque o comprador pode facilmente ficar "viciado", e, sem perceber, em pouco tempo, seria um ladrão, ou seu cúmplice. Seria um receptador. Aquele para quem os ladrões "trabalham".


     Numa bela manhã de primavera, o senhor caminhava pelo jardim público, no dique da cidade, quando foi abordado por um adolescente, o qual portava uma arma de fogo que, claramente, denunciava que aquele jovem não sabia, sequer, empunhar o material bélico. Era um assalto. O senhor estava suplicando para que não lhe fosse roubado seu celular. Argumentou o quanto pôde sobre a importância dos dados particulares para o dono de um celular e que o prejuízo não é só material. Pediu que o ladrão o deixasse retirar o "chip", mas foi cruelmente repelido com violências e humilhações. Nesse momento o senhor pensou e se questionou sobre o que teria transformado uma pessoa humana em um ser tão baixo e deprimente. 

     E num confronto de olhares que objetivavam o conhecimento mútuo, o senhor lembrou do do dia em que fora abordado por um suspeito que lhe ofereceu um celular novo por um preço muito baixo, e resolveu argumentar, mais uma vez, com o assaltante. Perguntou por quanto o ladrão iria vender o aparelho. O senhor constatou que apesar da pouca idade, o meliante tinha conhecimento dos preços praticados no mercado negro, e respondeu que venderia o celular do tal senhor pela quantia de quatrocentos ou trezentos reais. O senhor sentiu, nesse instante, que poderia diminuir drasticamente seu prejuízo, visto que o seu telefone celular havia custado, na loja, três mil reais (R$3.000,00). O senhor demonstrou interesse em comprar o seu próprio celular por quinhentos reais (R$500,00), um valor maior do que o praticado no mercado de roubados, justamente para ganhar a concorrência. Marcaram para o dia seguinte, o encontro na casa da vítima, visto que esta não tinha mais dinheiro.


     Pela manhã, o senhor havia acabado de acordar de um pesadelo, quando o vendedor chegou. Trocaram cumprimentos cordiais, como dois cavalheiros em negociação. O senhor pagou o valor prometido, imitando o gesto do vendedor que cumpriu a promessa de lhe procurar e lhe dar a preferência. Fecharam o negócio, apertaram a mão um do outro e o vendedor disse a célebre frase: "Foi bom fazer negócio com o senhor!" O senhor conferiu e constatou com alegria que seus dados e arquivos pessoais estavam intactos no aparelho.

     No dia seguinte, pela manhã, novamente, o vendedor de celulares apareceu na casa do tal senhor e lhe ofereceu um outro aparelho, pelo módico valor de trezentos reais (R$300,00). Estarrecido, o senhor rejeitou, e o vendedor iniciou uma negociação promocional...!

LuisBorsan

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